Autora Elza Dias Trabalho doméstico no Brasil: ontem e hoje, que mudou? Eu era criança, mas lembro muito bem. Por Elza Dias Era a década de 1960 e 1970. Havia muita pobreza. No Norte de Minas, onde cresci, era comum que famílias pobres, com 10, 12 filhos, entregassem uma, duas, ou até mais filhas para viverem com famílias ricas — em troca de alimentação, moradia e, quando possível, algum estudo, geralmente à noite. Essa prática era reflexo do abandono vivido pelos negros após a abolição da escravatura. Os libertos foram deixados à própria sorte, sem terra, sem emprego, sem moradia. Muitas famílias permaneceram nas fazendas porque simplesmente não tinham para onde ir. Era comum os próprios pais autorizarem as patroas a "corrigir" suas filhas. E muitas delas eram surradas. A maioria nem chegava a estudar, pois seus dias só terminavam depois que as crianças da casa dormissem e tudo estivesse limpo e arrumado para o dia seguinte, que começava às 5 da manhã. Estudar era i...
(Escritora Kelen Gleysse) Corpos em Transição: Entre a Estética e a Essência Era uma vez uma cidade onde a eterna juventude parecia ser a norma. Bicicletas de alta performance rodavam pelas ruas, enquanto pessoas se espremiam em lycras coloridas, como se o brilho das roupas pudesse ofuscar as marcas do tempo nos rostos e corpos. Neste cenário, a busca por um corpo perfeito tornara-se não apenas uma meta, mas uma exigência cruel imposta por uma sociedade sedenta por padrões de beleza inatingíveis. Caminhando pelas calçadas desse lugar, encontrei com frequência o olhar julgador de almas dedicadas a moldar a forma física, transformando corpos em obras de arte, mas, na verdade, como escultores de marfim que esquecem a fragilidade do material. “Ela está acabada!” Um comentário cortante ecoou em um grupo que se exibia em um cafezinho pós-treino. As palavras vazavam de sorrisos insipientes e olhares de superioridade. Os corpos eram analisados, diss...
Thaisa Lima - Professora de Arte E SE DE REPENTE... E se de repente no meio da noite na sala de estar, iluminada por uma brega lâmpada colorida de uma árvore de plástico, você visse um portal? Grande e brilhante, adornado de azevinhos e bolinhas cintilantes, te puxando para uma lembrança como em um sonho no meio das nuvens. E se tomado de uma grande emoção você pudesse revisitar o seu natal mais precioso? Seus pés atravessariam uma porta pintada de nostalgia, aos poucos uma leve neblina daria espaço a um lugar que você reconheceria fácil. Objetos antigos e uma época dentro de uma incrível sensação de saudade. E se aos poucos chegassem ao seu ouvido vozes e timbres familiares, risadas, músicas e abraços de chegada? Antigos presentes que foram pequenos sonhos desembrulhados, gargalhadas infantis e suspiros sinceros cheirando brinquedos de plásticos novinhos. Você atravessaria uma sala com porta-retra...
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