CRÔNICA POÉTICA - O NATAL
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Thaisa Lima - Professora de Arte |
E SE DE
REPENTE...
E se de repente no meio da noite na sala de
estar, iluminada por uma brega lâmpada colorida de uma árvore de plástico, você
visse um portal? Grande e brilhante, adornado de azevinhos e bolinhas
cintilantes, te puxando para uma lembrança como em um sonho no meio das nuvens.
E se tomado de uma grande emoção você
pudesse revisitar o seu natal mais precioso? Seus pés atravessariam uma porta
pintada de nostalgia, aos poucos uma leve neblina daria espaço a um lugar que
você reconheceria fácil. Objetos antigos e uma época dentro de uma incrível
sensação de saudade.
E se aos poucos chegassem ao seu ouvido
vozes e timbres familiares, risadas, músicas e abraços de chegada? Antigos
presentes que foram pequenos sonhos desembrulhados, gargalhadas infantis e suspiros
sinceros cheirando brinquedos de plásticos novinhos. Você atravessaria uma sala
com porta-retratos cheios de outros dias bons entrando em uma cozinha repleta
das comidas mais incríveis que uma criança pode provar. E logo estaria
dividindo uma conversa com um rosto tão amorosamente familiar que você não pode
mais encontrar. Juntos vocês trocam palavras que para você eram tão simples e
rotineiras. E o seu coração transbordaria de uma saudade ímpar.
Os presentes te mostrariam desejos que você
não se importaria mais e a oração da ceia faria um sentido inexplicável
amenizando o tempo. A chuva que substituía a neve lá fora traria muito mais
alegria que a neve que você esperava de uma referência americana que hoje não
te toca mais os sentidos. Tocaria os enfeites da árvore numa gratidão quase
infinita de lealdade ao momento em que fora montada por mãos cuidadosas que
transmitiriam tanto afeto. Acolheria a pouca expectativa e o tédio dos
adolescentes no direito da imaturidade de não entender que aquele não é um dia
comum. Abraçaria e sorriria com sua alma em pleno gozo de felicidade,
saboreando um encontro na linha do tempo que se extinguiu dentro de sua
nobreza.
Aproveitaria mais uma vez as risadas em
forma de soluços dos primos de pijama no colchão. O revirar dos olhos na piada
do pavê, os embrulhos no meio da sala, o discurso do amigo oculto confundido
com a música das propagandas de natal na tv ligada sem ninguém assistindo.
Então, nessa segunda chance do universo, você beijaria com mais ternura, ouviria
com mais afeto, enfeitaria com mais carinho. Sua voz diria palavras mais doces,
seu olhar estaria mais atento, seus braços demorariam mais a desenlaçar. E se a
vida te desse um portal, uma oportunidade, uma passagem para uma redescoberta?
Você focaria no que mais importa, esqueceria o que te distrai. Amaria o Natal
com toda a valorização e entenderia que o dia mais importante está sendo
comemorado: o hoje.
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