CONTO INFANTIL
*O Menino Rosa e a Menina Azul*
O Menino Rosa e a Menina Azul eram amigos. Moravam na mesma rua,
ele no início e ela no final, na mesma quadra. Como a amizade dos dois era boa, estavam sempre juntos,
principalmente, na hora das brincadeiras na rua e nas idas e voltas da
escola. O menino gostava de brincar de bonecas, de patins, de cozinhar,
de lavar, de arrumar a casa e outras brincadeiras que muitos diziam ser de
meninas. A menina gostava de brincar de carrinho, de bola, de soltar
pipa, de pião e de bolinhas de gude, brincadeiras que muitos diziam ser de
meninos. Na verdade, nenhum dos dois pensava nisso, gostavam mesmo era de
brincar. Eles eram muito bons nas brincadeiras que gostavam. Quando estavam juntos, e sempre estavam, brincavam um pouco de
cada brincadeira. Eles se divertiam bastante assim. A cor preferida da menina era o azul, pois era a cor do céu e do
mar, que ela tanto adorava. A cor preferida do menino era o rosa, pois era a cor da pessoa
que ele mais amava, juntamente, com a mãe, sua avó. Em todo aniversário do Menino Rosa, a avó fazia um bolo para
ele, com cobertura de morango. O bolo, é claro, ficava todo rosa e mega saboroso. Dessa maneira, o menino aprendeu a amar a cor rosa. A avó havia feito o bolo até o sétimo aniversário do dele,
quando partiu sem se despedir. A mãe explicou que ela foi morar no céu, fazer bolo para os
anjos, já que eles gostavam muito de bolo. Ele acreditou. A cor rosa se tornou para o menino, uma lembrança feliz da presença
da avó. Depois da partida da avó para fazer bolo para os anjos, o menino
adotou a cor rosa. Ele pediu aos pais para substituir a cor azul-bebê do quarto,
pela rosa. O pai tentou tirar essa ideia da cabeça do filho, mas ele disse
que era uma homenagem à avó. Assim, o pai concordou. A Menina Azul nasceu no litoral nordestino, mas devido ao
trabalho do pai, teve que mudar-se para a Região Central do Brasil, longe do
mar. A menina amava o mar. Não havia um dia sequer que não fosse à
praia observá-lo. Ela gostava tanto do mar, que muitas vezes desejou ter nascido
sereia para viver nele. No dia da mudança ela chorou muito, mas não teve jeito, mudou-se
com toda a família: o pai, a mãe e duas irmãs maiores, que choraram não pelo
mar, mas porque tiveram de deixar os namoradinhos. Com a mudança há dois anos, a Menina Azul foi parar na mesma rua
do Menino Rosa. Quando o Menino Rosa e a Menina Azul viram-se pela primeira vez
foi na escola, estavam na mesma turma e no mesmo ano de estudos. Eles estavam sentados em fileiras diferentes, mas próximos um do
outro. Quando se olharam e sorriram um para o outro, imediatamente, no
mesmo instante, souberam que seriam amigos. Estavam trajados com casacos nas cores prediletas e geraram
burburinhos entre os alunos que se conheciam do ano anterior. Mas foi no intervalo do recreio que eles conheceram seus novos
nomes. - Hei Menino Rosa! Hei Menina Azul! Vocês querem brincar? A partir desse dia estavam sempre juntos. Se o Menino Rosa fosse brincar de bola, com os outros meninos,
ela ia junto. Se a Menina Azul fosse brincar de amarelinha, com as outras
meninas, ele ia junto. Dessa maneira, eles participavam de todas as brincadeiras. Se alguém dissesse que ele não podia brincar de pular
amarelinha, porque era brincadeira de menina, eles tinham um combinado: ou
brincavam os dois ou não brincavam. E, se alguém dissesse que ela não podia brincar de bola, porque
era brincadeira de menino, eles mantinham o combinado. Assim, foram vencendo as barreiras. Com o tempo, ninguém
tentava mais excluí-los das brincadeiras. Os meninos já queriam que a Menina Azul participasse, pois ela
jogava bola muito bem, bem melhor que muitos meninos. As meninas, também, já queriam que o Menino Rosa, pulasse
amarelinha com elas, pois ele fazia-o muito bem. Eles acabavam brincando mais que todo mundo, já que participavam
de todas as brincadeiras. Certo dia aconteceu algo muito chato. Quando a Menina Azul tentou participar de uma brincadeira de
bola, um aluno novato disse: - Sai daqui “sapatão”! Essa brincadeira é dos meninos. O Menino Rosa se aproximou e disse: - Peça desculpa! - O outro menino disse: - Sai daqui você também, “maricas”! – e empurrou o Menino Rosa. O ocorrido foi parar na sala da diretora. Os pais do menino preconceituoso foram chamados.
Comprometeram-se em corrigir o filho. Ele teve que aprender a respeitar e aceitar os diferentes. Os alunos viram a atitude de preconceito e passaram a evitá-lo
nas brincadeiras. Dessa forma, aprendeu que o preconceito não é bom. Só
prejudica a convivência e as boas amizades. Com respeito e aceitação as brincadeiras voltaram a acontecer de
forma harmoniosa na escola. A amizade entre a Menina Azul e o Menino Rosa está a cada dia
mais forte na escola e na rua onde moram. E não há distinção de gênero em
suas brincadeiras. Em dias de vento: soltam pipa! Em dias de chuva: eles brincam de boneco ou boneca, videogame,
de ler livros, de cuidar da casa, de danças, de cantar, de desfilar e montar
quebra-cabeças. Em dias de sol: jogam bola! Brincam de pular amarelinha, de
patins, de andar de bicicleta, de correr, de pular, de super-herói, de pular
elástico ou cordinha. Nos outros dias: brincam de tudo o mais que os deixam felizes. A Menina Azul está crescendo e sonha em trabalhar como bióloga
marinha, assim estará bem próxima do mar, que tanto ama. O Menino Rosa, também, está crescendo e sonha em trabalhar como
aviador, assim estará mais próximo do céu e de sua avó. E sabem de uma coisa? Mesmo quando crescerem as cores preferidas deles continuarão o
azul e o rosa, e não há nenhum mal nisso. Maxilane Martins Dias* É graduado em Pedagogia (1997), com especialização em Literatura Infantil (2004), pela UFAC (Universidade Federal do Acre). É autor de *Horácio: o burrinho aventureiro*, pela Chiado editora (2018); *Cachinhos de Uva e os Três Ursos* e *A menina que roubava*, pela Kazuá editora (2018); e, *O Galo que Queria ser Rei*, também, pela Kazuá editora (2020). É pai de Pedro Henrik e de Maria Eduarda "em memória". É membro da SLA (Sociedade Literária Acreana) desde de 2019. Gosta de literatura em geral, em especial, a literatura infantil. Contato de email: maxilanedias@gmail.com Rio Branco – Acre, 22/01/2020). |
Gostei desse conto desde a primeira lida. (Valdeci Duarte)
ResponderExcluirMax dias histórias criativas,está de parabéns,sucesso amei cada história meu autor número 1
ResponderExcluirMuito legal profeso max
ResponderExcluirParabéns. Muito bom!
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